“Atualmente, não basta fechar a porta física da casa. É necessário tomar conta da ‘porta digital’”, alertou a doutora Patricia Peck, especialista em Direito Digital e PHD em Direito Internacional, sobre a maior exposição de crianças e adolescentes na internet devido ao ensino remoto. A especialista palestrou numa live do Sesi São Paulo, na quarta-feira, 23.
Neste cenário, que demanda o uso da internet para aulas e atividades escolares, somando as horas dedicadas a lazer online, Patricia enfatizou que os familiares precisam controlar essa exposição. “Ao longo do tempo, o uso excessivo pode ocasionar insônia, perda de rendimento, falta de interesse em socializar, além de dependência. Em Fortaleza, crianças de 5 anos já são tratadas em decorrência da dependência de celular”.
A especialista também lembrou do aumento de casos de pessoas caindo em armadilhas digitais, como golpes, situações de bullying e pedofilia, entre outros casos. Uma dica da doutora é que os familiares criem um revezamento na função de monitorar mais de perto o que crianças e adolescentes estão fazendo na internet. “A participação da família nessa rotina é fator determinante para evitar as armadilhas digitais. Eles podem combinar um revezamento na sondagem e verificação da segurança online. Precisa ser um trabalho colaborativo”.
Assista ao evento Papo em Família Live “Desafios do ensino remoto: como fazer o uso seguro, saudável e ético da tecnologia nas aulas online?”.
Confira algumas das dicas e orientações da doutora Patricia Peck aos familiares com estudantes em casa em tempos de pandemia:
- Oriente que sejam feitas pausas: Importante durante os estudos ou em momentos de entretenimento. “Levantar para pegar a própria água, andar alguns passos, mesmo que em volta da mesa”, disse Patricia. Em momentos como refeições e no fim do dia, ela indica o ‘toque de recolher digital’. “Para que se alimentem de maneira mais concentrada naquilo que estão comendo, por exemplo”.
- Pergunte sobre possíveis abordagens online: “A internet é a rua digital. Assim como orientamos nossos filhos a não conversarem com estranhos, vale para os contatos online. Nove em cada dez meninas relatam receber com frequência fotos ou vídeos indesejados via redes sociais. Além disso, as quadrilhas digitais estão agindo na faixa etária de 8 a 14 anos, um público muitas vezes ainda ingênuo, que sente vergonha de relatar aos pais, ou que está numa fase de curiosidade”. Em jogos online, por exemplo, a especialista orienta aos pais que bloqueiem câmeras ou fiquem de olho nas roupas que os filhos estão vestindo. Tudo isso pode gerar fotos e vídeos não autorizados circulando em sites impróprios. “Outra dica é os pais digitarem o nome completo dos filhos em sites de busca para verificar a reputação digital deles”.
- Oriente sobre linguagem e opiniões em grupos de mensagens instantâneas: É importante que os pais expliquem sobre a importância da tolerância, de manifestar a opinião sem ofender, e que também se policiem sobre linguagem, uso de frases em tom pejorativo, pois eles são referências para os filhos, que podem entender que tudo bem reproduzir. “Uma pesquisa demonstrou que grupos de WhatsApp motivam 77% dos problemas nas escolas. Os alunos com idade entre 9 e 12 anos estão numa fase desafiadora sobre exposição de opiniões, por exemplo”.
- Atenção para mudanças de atitude e humor: Se o estudante deixar de fazer algo que gosta, como se divertir em jogos online, ela indica sondá-lo sobre possíveis situações de bullying. Orientou também para os cuidados com os desafios feitos na internet. “As plataformas de compartilhamento de vídeos estão repletas disso, então o ideal é não relaxar, pensando que a criança está apenas se divertindo, assistindo e copiando dancinhas. Muitos desses desafios não acabam bem”.
- Fique de olho no tempo de uso da internet: Segundo a especialista, a idade deve definir as regras do uso das tecnologias. Nesse sentido, indica que crianças até 2 anos não devem usar telas; as com até 5 anos, no máximo durante 1 hora, com intervalos; de 6 a 10, fazer o uso por 2 horas, com intervalos; e de 11 a 18, por 3 horas, também com intervalos. “E crianças com até 12 anos incompletos precisam de acompanhamento, senão é abandono digital”.